Ao lado das 65 mil mortes violentas e intencionais ocorridas no Brasil em 2019, e das 40 mil mortes em decorrência dos intermináveis acidentes de trânsito, catalogadas pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 32 mil pessoas, até 03.06.2020, de todas as idades e gêneros, de março e maio de 2020, oficialmente, também perderam a vida, agora diagnosticadas com a Covid-19, números deveras assustadores e que deveriam merecer das autoridades públicas, pelo menos, o reconhecimento de que somos, na realidade, o país mais violento do mundo e aquele que menos valoriza a vida humana.
Essas mortes violentas – quase sempre envolvendo vítimas que nunca tiveram acesso às poucas políticas sociais oferecidas – são provocadas, no mais das vezes, além da ausência de oportunidade de inserção social, pelo uso de potentes modalidades de armas de fogo, que circulam livremente no país, sem que haja qualquer tipo de controle estatal, pelo contrário, a sua comercialização, como nunca, é constantemente estimulada como sinônimo de instrumento de defesa pessoal. As mortes no trânsito, por sua vez, são ocasionadas pelas péssimas condições das nossas estradas, quase sempre com sinalização deficiente, sem contar que o uso de drogas (lícitas e ilícitas) também contribui para este desastre social.
A pandemia provocada pelo coronavírus, que vem atingindo a população brasileira e mundial, já posiciona o Brasil em segundo lugar no mundo em quantidade de mortes, enquanto algumas autoridades públicas tratam este grave problema de saúde pública como uma “gripezinha” que não precisa de maiores cuidados terapêuticos. A valorização da aglomeração humana, o desuso das máscaras faciais e a higienização manual, que preventivamente é recomendada pela Organização Mundial de Saúde, infelizmente, são substituídos por passeatas a céu aberto, sem nenhuma preocupação com a saúde pública.
A verdade é que os brasileiros que estão morrendo pela ascensão constante do Covid-19, se deve muito pela ausência de uma política integrada e útil de combate ferrenho ao inimigo invisível. Era de se esperar, como a Alemanha fez, que as autoridades públicas da União, dos Estados e dos Municípios, dispensadas as questões políticas, formalizassem um plano nacional de combate ao vírus, estruturando os hospitais e oferecendo aos profissionais da saúde as condições mínimas para a contensão da maior tragédia humana do século.
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